All this little things

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Bom dia. Acho que deve ser dia aí onde você está. Falando nisso, será que é possível me dizer onde você está? Estou tão cansada de procurar uma explicação e de imaginar lugares bons, repletos das paisagens que você tanto amava e que eu sempre detestei. Lembra de quando nós acampamos, naquele lugar ‘lindo’, com uma cachoeira bem pertinho e o ar mais puro que já respirei? Você riu do meu equipamento de proteção contra insetos e me obrigou a deitar a seu lado na grama. Eu fingi detestar, mas ficar ali, naquele lugar só nosso, sentindo sua respiração em meu cabelo foi uma das melhores coisas que você podia ter feito por mim. Esses dias, em mais uma tentativa de me despedir de você, estive lá, com um caderno e uma grande garrafa de chá quente.  Escrevi duas palavras, risquei vinte e fiquei olhando para aquele lugar que parecia tão vazio sem sua presença. Um segredo, todos os lugares tem parecido assim, vazios.

Esses dias, minhas amigas chegaram e praticamente me arrastaram para fora de casa, era noite das garotas e elas estavam dispostas a me levar em qualquer lugar. O único problema é que eu não queria ir a lugar nenhum, além desse, que você está, lá, te pegar por esse cabelo louro cheio de cachinhos que eu tanto amo e te trazer pra casa. Acabamos naquela festa que eu tanto amava e que íamos, pra me fazer feliz. Todas dançavam e, enquanto eu fingia precisar ir ao banheiro pela milésima vez, vi um garoto alto demais para sua namorada dançando todo desajeitado, ela sorria, ele sorria, eu sorri. Geralmente eu que costumava ser aquela garota, com aquele garoto grande demais, sorrindo por seu jeito ‘único’ de dançar. Não tenho sido mais tão sorridente, minha covinha, que você adorava implicar e depois beijar, já está quase esquecida nesse rosto meio fantasma.

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Às vezes, como boa roteirista, gosto de pensar que você foi para outro país, focar em sua carreira e até acabou encontrando outra garota pra chamar de sua, ou que foi um cachorro, que quebrou meu coração e ainda conta aos amigos orgulhoso que fui apenas mais uma. Você iria rir, franzindo o nariz e com um olhar minhas teorias seriam destruídas, eu não era mais uma, eu era a única, soube desde o início e parece que nunca vou ‘deixar de saber’, assumi tão bem meu papel de sua, era tão simples ser sua… Como aqueles quebra-cabeças que montávamos com seus sobrinhos, simplesmente, no meio de tantas peças que tentávamos ajustar, tinha uma que encaixava perfeitamente. E quando se perde a peça, para nunca mais achar, o que a gente faz?

Uma das nossas vizinhas me disse que eu tinha que te deixar ir, descansar em paz, que você estaria olhando por mim, de longe. Paz, nós sempre criticamos tanto esses clichês e, embora eu ainda esteja te procurando, espero que não esteja olhando por mim, seria muito duro com você ter que ficar cuidando de mim de longe, sem poder fazer nada, talvez você até esteja bravo comigo por ser tão teimosa e não ‘me livrar de você logo’, como quando desisti de viajar pra Argentina e trabalhar naquele roteiro, só porque iríamos viajar para uma praia deserta no inverno para comemorar nosso primeiro ano juntos. Até quase consigo te ouvir dizendo ‘Olha cara, eu te amo, você sabe. E se eu te amo, não quero que desista das coisas por mim, você vai para a Argentina e eu vou pra praia, todos os dias, no mesmo horário, ligamos o computador e nos falamos, podemos até comer a mesma coisa, embora eu cozinhe infinitas vezes melhor’, mais uma vez fui teimosa, e aquela semana entrou no top 2 de nossos melhores momentos. ‘Top 2, porque quando estivermos velhos não lembraremos de muitas coisas pra contar aos nossos netos, mas duas lembranças seriam quase impossíveis de esquecer, mesmo assim, cada um guardaria uma’. Será que eu ainda vou ter netos?

Eu visitei lugares, chorei mares agitados, iniciei cem cartas de despedida (e não estou usando um número grande, para exagerar, foram, exatamente cem), conheci algumas poucas pessoas, tirei férias e viajei para a cidade mais linda que poderia imaginar. O que não imaginava, era que a cidade mais bonita que eu poderia imaginar era vazia. Todos os lugares são vazios. Todas as pessoas são vazias. Eu sou vazia. No fundo, eu só queria que esse sentimento de impotência fosse embora, mas como? Me sinto impotente, todos os dias, quando vejo nosso cachorro, grande demais para o nosso pequeno apartamento (como você era pra mim) te esperar na porta e, mais ainda, quando vejo que também estou esperando você entrar, colocar sua câmera cuidadosamente sobre o sofá e sorrir pra mim. Só queria te fazer bem, ou saber se você está bem, mas, acima de qualquer outra coisa, espero que você esteja longe de mim e de tudo isso que eu lhe faria passar se estivesse me vendo.

Olha cara, eu te amo, você sabe. Então fique bem onde está, se puder, não me procure, eu fico aqui e vou tentar guardar tudo que nós tivemos como lembranças. Todos os dias, no mesmo horário, nós podemos nos ‘ver’, até comer a mesma coisa, embora eu cozinhe infinitas vezes pior.

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