Candy

sad-hug A cidade está um caos, todos estão correndo com seus guarda-chuvas e tentando fugir do frio. Ok, talvez você tivesse razão, eu devia ter colocado mais roupa. Estou carregando minhas mil bolsas, típicas de todos os fins de semana em que moramos juntos e tentando não ser arrastada pelo vento. A semana foi longuíssima, terminei mil trabalhos, meu primeiro filme – aquele do qual você sabe cada um dos detalhes de cor – finalmente está no mundo, comi 13kg de chocolate e, principalmente esperei a semana inteira pra que o calendário marcasse 12/06. E isso, de todas as coisas que fiz e intitulei ridículas desde que te conheci, particularmente, parece mais. E olha que a lista é longa. Eu consigo praticamente sentir o meu eu do ano passado, sentado no banco de trás desse ônibus, rindo do meu eu de hoje, escrevendo a milésima carta pra você em uma folha bonitinha. E o incrível é que, mesmo assim, só consigo pensar em daqui a doze horas, quando você vai sorrir pra mim, pedir desculpas por estar atrasado, me beijar e me colocar, sem cuidado nenhum, no seu abraço que me faz sumir (e não é nem por eu ser infinitamente mais baixa).

Acabo de descer duas paradas antes, mesmo com a chuva, pra procurar o chocolate que comemos em nosso primeiro cinema (aquele em que, pra variar, me perdi no caminho e te fiz ficar andando em volta do shopping por quase uma hora). Sim, eu lembro. Quando se trata da gente, minha memória tem se mostrado incrível, é quase como se eu tivesse uma caixinha (igual aquela que ganhei de você no meu aniversário, cheia das nossas fotos e cartões) dentro de mim, que guarda praticamente todos os seus sorrisos e todos os dias que ficamos na cama por horas sem nada além de nós dois. E isso, querido, para mim, é a coisa mais bizarra de todas. Eu nunca fui a pessoa que precisava ou queria alguém, muito pelo contrário, precisar só de mim sempre foi uma das coisas que mais me orgulhei de mostrar pro mundo, era tão ridículo que certa parte da felicidade da gente fosse depender da felicidade de uma outra pessoa que apareceu em uma noite de segunda-feira e puxou assunto mesmo que não soubesse muito bem o que dizer… Obviamente (mesmo ainda usando “*-*” em pleno 2015) foi assim que aconteceu. E, de repente, todos nossos amigos já sabiam o que nem a gente tinha se deixado saber ainda e sorriam quando nos viam falar que não éramos um casal. Casal. Eu também sorria, ao invés de me preocupar. Como me preocupar? Era você.

Você meio que tem essa coisa, de chegar e fazer com que automaticamente meus olhos sorriam, mesmo que dez minutos antes o mundo estivesse um caos. As pessoas realmente podem ser um porto seguro às vezes, isso não é novidade, a novidade é que eu tinha acabado de encontrar um novo lugar pra ancorar e, mesmo que quase nunca admita, virou meu lugar preferido. Só pra se ter uma ideia, estava aqui pensando e percebi que gosto de você tanto quanto gosto daqueles filmes de romance que têm seis horas de diálogos, em cidades bonitas, que geralmente acabam ‘sem final’. É, pode se preocupar que isso realmente é um monte. Falta pouquíssimo pra acabar minha última folha, e olha que eu jurei que dessa vez não iria ser sobre você, mas, como dizia aquela música “agora é”.

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Estou sentada no nosso ponto de encontro, tentando pela milésima vez ler a matéria sobre como o cinza é a cor dessa estação. O relógio marca 19:15. Olho para a porta e, obviamente você não está lá. Fecho a revista. Será que é tão difícil assim chegar UM DIA CEDO? “Dessa vez foi o trânsito, eu juro.” Você sorri. “Bonitinha, desculpa.” Os carros param de passar. As pessoas, de disputarem espaço nas marquises. A semana até pode ter sido difícil, meu quarto segue uma bagunça, aquela pilha de livros pra ler só aumenta, corremos tanto que, se não fosse pelas ligações de fim de tarde, quase não teríamos conseguido conversar. A garota do banco de trás do ônibus deve seguir balançando a cabeça em negativa. Você me oferece a mão. Em dois segundos, estou desajeitadamente envolvida em tudo que você é. E aí, como esperei desde hoje de manhã, ou desde antes de saber que esperava, sumo.

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