Conversa com Mariana Kalil

Se o final do ano já traz consigo mil pendências para resolver, para Mariana Kalil, que em julho deste ano deixou a editoria do conceituado Caderno Donna e decidiu investir em sua própria plataforma, a correria multiplica. Na tentativa de agendar uma entrevista, trocamos dezenas de emails, mas apenas um dia antes dessa matéria ser entregue foi que finalmente conseguimos nos encontrar,  antes de mais um de seus compromissos. O tempo era curto, trinta minutos, contadinhos. Iria passar rápido, as perguntas precisavam ser bem montadas para que conseguíssemos falar sobre tudo. Mariana já chegou rindo, tinha acabado de abordar outra menina pensando que era eu. E com esse clima informal passamos os próximos trinta minutos conversando, como duas conhecidas em uma praça de alimentação do Shopping Moinhos de Vento.

Sua paixão pelo jornalismo veio da infância, “Com 5 ou 6 anos eu gostava muito de televisão, então eu achava que o jornalismo era uma profissão mais próxima. Não foi uma dúvida em nenhum momento, me formei no colégio e já fui direto fazer comunicação.” Durante a graduação, a TV seguia como futura profissão. “Acabei fazendo alguns concursos pra RBS TV e Bandeirantes, mas não conseguia passar, eu era super boa em TV, tirava só nota 10 e não conseguia entrar.”. Neste meio tempo, a jornalista conseguiu uma vaga no arquivo fotográfico do jornal Zero Hora e assim descobriu a redação: “Acho que foi meio que um sinal divino assim, tipo, ‘Ta vendo por que a porta da TV não abriu? Porque a gente sabia aqui em cima que tu ia gostar mais de redação.'”. E foi na redação que ela se encontrou. Além de editora do Caderno Donna, também passou pela redação da Revista Época, um dos períodos mais difíceis e acrescentadores de sua carreira. “Aqui eu trabalhava em moda e cultura, no segundo caderno. Lá, fui para gerais. No meu primeiro dia já me mandaram para um viaduto cobrir uma greve de caminhoneiros. E depois cobrir um prefeito corrupto. Era uma cidade estranha, com pessoas que eu não conhecia, sem saber quem era fonte e quem não era. Trabalhando muito. Chegando às nove da manhã e quando saía cedo era dez da noite. Exausta. Exaurida. Foi muito duro. Mas foi o que me fez crescer.”

Atualmente, Mariana divide o tempo entre seu site (gerando todos os conteúdos), colunas dominicais, crônicas semanais e matérias quinzenais para a Zero Hora. O ritmo de trabalho é intenso. “Tô trabalhando quase mais do que na redação. […] Esses dias eu tive um ataque histérico dentro de casa, eu externo assuntos, mas tenho que consumir também, para assim gerar mais assunto. Eu não quero ficar lá ‘AI ESSA BLUSA É NÃO SEI O QUE’ e depois foto, foto, foto. Eu sou jornalista, conteúdo é importante pra mim. Eu não posso jogar uma coisa no ar, que não tenha conteúdo. Me incomoda isso.”. O conteúdo e o próprio espaço que a imprensa e público gaúcho dão para temas culturais e de moda também foi uma questão bastante abordada durante nossa conversa. Questionada sobre o motivo pelo qual o jornalismo de moda ainda é tão deixado de lado em nosso estado, disse: “Se tu for ver a gente tem malharias, tem toda uma indústria calçadista, eu acho que é muito a função de imprensa mesmo, porque se a gente for ver, somos uma capital menor, temos, bem ou mal, um único veículo de informação, que realmente existe. Então a imprensa ajuda a fomentar interesse, a gerar conteúdos e trazer gente pra trabalhar nisso. Falta veículos mesmo!” Outro ponto que contribuiria para essa falta de espaço seria à associação de grandes potências apenas ao eixo Rio/São Paulo. “Como escritora, como jornalista, às vezes na Zero Hora a gente fazia uma matéria que era um furo nacional e não chegava lá. As coisas só são assunto quando estão lá.”

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E estar fora do eixo, muitas vezes, acomoda. “Valesca Popozuda, a gente queria dar uma capa da Valesca, foi uma guerra, para conseguir. Daí a Folha deu, ‘Ah, agora precisamos dessa capa’. Se está vendo uma tendência, é preciso falar. E parece que não. Primeiro alguém tem que lançar, pra só depois a gente poder falar.”. Coisas que, com o lançamento da plataforma, ficam para trás. “Gostaria que o portal fosse referência. Referência em cultura, referência em moda com conteúdo. Eu quero fazer com que ele seja uma revista digital.”. E com todos estes projetos e expectativas, vive uma das melhores fases de sua vida profissional: “A parte mais legal tem sido agora, ser dona do meu nariz, do meu negócio, da minha marca. Fazer o que eu quero e acredito, com a minha cara.”

Embora seja muito relacionada com o ramo de moda, a escritora que já publicou três livros (Tudo Tem Uma Primeira Vez, Peregrina de Araque -Uma Jornada de Fé e Ataque de Nervos No Oriente Médio e Vida peregrina – Uma Jornada de Desequilíbrios, Tropeços e Aprendizado) admite que esse não é seu assunto preferido. “Eu escrevo, gosto de ler, mas não sou fashionista, não. Esse universo de moda me cansa, eu odiava cobrir São Paulo Fashion Week. Eu não gosto muito desse universo, mas faço e procuro me divertir, tirar um personagem, um universo paralelo. E tudo vira história. Eu comecei a me divertir na SPFW quando comecei a escrever pro blog sobre aquele universo paralelo, eu dava risada, me divertia. Transformar aquelas pessoas em personagens.”. Seu assunto preferido? Culinária. “Eu amo culinária. AMO. Sou um zero à esquerda para fazer, mas adoro receitinha, adoro aquela coisa de bem estar, de alimentos que fazem bem pro corpo, pro organismo. Saúde.”.

Como novidades do portal para o próximo ano, a jornalista adiantou que já está pensando em um produto sucessor de suas sandálias menorquinas, que foram vendidas em edição limitada em 2015,  “Talvez uma botinha!”. Existe também o projeto ‘Mari na Tela’ que surgiu um pouco para sanar a antiga vontade de fazer TV, um pouco por demanda das próprias leitoras “Eu fui para o Peru agora em junho e fazia uns vídeos para o facebook, algo despretensioso assim, umas bobagens. Foi super assistido, compartilhado, e então começaram a me dizer assim, ‘ai, faz vídeo, faz vídeo’. Só que eu sou tri autocrítica assim,  então não sei ainda que tipo de vídeo vai ser, mas me sinto super à vontade.”, 2016 também será o ano em que o site incluirá conteúdo patrocinado, tudo com muita transparência e identificação com a autora “Vai estar lá bem grande, ‘ESTE POST FOI PATROCINADO POR LOJA TAL’ e a gente só vai trabalhar com marcas que eu me identifique. Tu não pode perder tua credibilidade, porque para construir é devagarzinho, agora para colocar fora… Posso morrer pobre, mas vou morrer com credibilidade”. E com essa frase que justificava completamente o porquê de tê-la escolhido como entrevistada, nosso tempo estava se esgotando. O relógio apontava 19:02. Antes que pudesse engatar mais uma pergunta seu celular já estava tocando. Com o sorriso e a leveza que perpetuaram por toda a entrevista, Mariana se despediu, agradecendo e dizendo “Qualquer sugestão ou ideia, manda lá!”.

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Eu um pouco tiete

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