If I lose myself

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Hoje acordei cedo, você se surpreenderia. De repente nem dormi e ainda esteja com aquele êxtase típico de quando você reaparece. De onde você surge é a única coisa que gostaria de saber, ou não, talvez seja o mistério que te envolve que me mantém tão conectada, também pode ser esse seu cabelo bagunçado, combinado com sua tatuagem mal feita e a sua voz tão calma… Ou é tudo isso junto. Ou não é nada disso. Sou muito confusa em relação a você para chegar a apenas uma conclusão e sinto que, se chegasse, nos perderíamos.

É claro que você me desarma com meia dúzia de palavras e sorrisos, o que eu detesto, aliás. E disso você deve saber, já que, mesmo dizendo o contrário, me desvenda tão bem nessas suas idas e vindas. Sabe aquelas coisas que eu conto baixinho? Ninguém mais sabe. Elas ficam guardadas junto com aquelas confissões bagunçadas que, entre beijos, você vai soltando.  Mas, acima de todas as coisas que você sabe, sabe que não devia me estender sua mão. Eu, acima de todas as coisas que sei, sei que não devia segurá-la, mas quando faço, é como se pulasse de um abismo. Aquele minutinho antes de pular, em que a gente ignora o frio na barriga e, sem se importar com o que espera lá embaixo, respira fundo e se joga.

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Você não quer ser só uma brisa, quer ser tempestade, virar tudo do avesso ao passar e depois sumir, sem mais nem menos. E é assim que me captura. Cada vez que você me encontra automaticamente me perco, sumo de vista e a única coisa que importa é que nada mais importa. Ao invés de parar, o tempo voa. Nós voamos. Dançamos de mãos dadas entre raios e trovões, enquanto todas as outras pessoas vão virando vultos. E parece tão simples…

Já é noite e o tempo fechou lá fora. Nuvens escuras tomam conta do céu e as pessoas estão fechando suas casas, com aquela mania insuportável de quererem se proteger. Abro a janela e saio para a sacada. O vento está ficando forte. Sorrio.  Meu telefone toca. Sua voz calma me conta, entre risos, sobre o vizinho que luta contra o vento para tirar as roupas do varal. Pergunto se você já abriu a janela e ouço um sorriso. Você pergunta se já encontrei os sapatos que perdi enquanto você me carregava correndo dentro daquele túnel ontem à noite. ‘Não tive tempo nem de ME encontrar’. Você sabe exatamente o que quero dizer e, calmamente, me pede para abrir a porta. Sei que você não estará lá, mas levanto. Ao passar pela janela, vejo seu Edgar tentando, com muita dificuldade, tirar as roupas do varal. Abro a porta. Meus sapatos. Sua mão está estendida, seus olhos queimam. Inspiro fundo e estou, mais uma vez, no penhasco. Onde queria estar.

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