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Ainda deve ser madrugada. Seu corpo está em cima do meu, com o máximo de partes enlaçadas possível (acredite, eu contei quantas poderiam e temos um recorde), sua voz está rouca, baixa, e, principalmente, em meu ouvido, reclamando que não estamos perto o suficiente. Eu sorrio. Mesmo que precise acordar cedo. Mesmo que você esteja tão perto que eu quase não consiga respirar. Penso que é exatamente por essas coisas que queria te emoldurar e deixar em uma parede pro mundo ver, do jeitinho que eu vejo. Percebo que já tenho até a cor da moldura e então me sinto a pessoa mais idiota do mundo. Eu nunca soube que cor escolher. Nunca sequer cogitei escolher cores. Dou uma olhada para o lado, esperando que meus escudos comecem a aparecer e gritar um “CORRE! AGORA!”, mas eles parecem mortos. Minhas pernas parecem mortas e é aí que percebo que não quero correr. Você vira para o outro lado e me pergunta onde estou. E eu adoraria saber a resposta, mas a verdade é que, querido, eu estou perdida. Do mesmo jeito que me perdi no Outback, só que, nesse caso, sem a mínima vontade de voltar para a mesa.

Que nunca fui muito boa com caminhos, você bem sabe (inclusive as preocupações de “me explica exatamente onde tu ta“ estão, junto com tua mania de me levantar do chão e teu ritmo que é tão teu e tão não parecido com nada que eu já tenha visto, no top três de coisas que eu mais gosto). Minhas estradas costumavam ser tão curtas que poderiam ser consideradas quadras. Quinze minutos andando e já era hora de virar a esquina e ir embora. Sozinha. Sem nem olhar pra trás. Então era outra esquina. Você estava lá, com uma cerveja na mão e um sorriso despreocupado. Uma cara de quem não prestava muito e que, assim como eu, não queria andar. Parei. Bebi sua cerveja e sentei no cordão. E, entre uma cerveja e outra, antes que sequer notasse, estava em um labirinto. Que fala dormindo e gosta dos mesmos desenhos que meu irmão de doze anos. Que não gosta dos meus filmes preferidos, mas ama pizza de brócolis. Que encontra brechós e sorri enquanto eu procuro desesperada no meio de seis bilhões de cabides. Que vê poesia na minha falta de jeito pras coisas e já está dizendo ‘sim’ pra programas que nem sabe o que é. Que organiza um primeiro encontro que acaba virando sair pra beber e me beija quando digo que algo com morango não pode dar errado. Eu não sabia o que fazer. LOGO EU, que adorava me conhecer tão bem. Segui dançando com as paredes sem saída por muito tempo, dizendo que estava tudo bem e que só estava dando um passeio.

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Passeei. Por todos os sussurros, beijos na testa, tardes que viravam noites, que viravam outro dia, que eu não queria que acabassem nunca. Por carnavais, almoços de família, fotos de infância, histórias do passado e até por como você pediu a primeira garota em namoro (inclusive, segue sendo um pedido horrível). Por sua cama bagunçada, seus amigos, seu mural de fotos, os carinhos em meu cabelo, as mãos enlaçadas. Por todas as pequenas frases bonitas que estão guardadas na pasta dos prints (inclusive, odeio que você saiba da existência dela).  Segui andando, sem me importar com a hora, com as pessoas que passavam do lado, ou com a falta de destino. Só queria andar. A estrada era linda.

Sabe o que é mais incrivel em tudo isso? Mais do que eu finalmente conseguir admitir, mesmo que entre muitos rodeios, pra mim e pro mundo que, ‘sim, ta, eu meio que gosto pra caralho dele mesmo’? Mais do que todas minhas dúvidas sobre essa coisa de relacionamento acabarem no exato momento em que você diz o quão incrível acha termos nos encontrado? Que, por mais que nunca tenha acreditado em todas essas coisas além dos textos que escrevi, hoje eu esteja aqui, odiando a segunda porque é hora de dar tchau pra você, entrar no ônibus e  só voltar ver no fim de outra semana. O despertador está tocando, você pede mais dez minutos e me beija, e, por mais que tudo esteja confuso lá fora, me aninho em meu tão perigoso quanto aconchegante labirinto. Fecho os olhos e, com a calma de quem sente que, finalmente, acertou as coordenadas, fico.

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