O Inverno Acabou

Eu tô congelando aqui fora. Tá um daqueles dias em que eu só queria me enterrar nas cobertas, mas você já estava abrindo a porta pra sair por aí e deixar a neve cair no nariz. Eu achava que quem ia cair era meu nariz, cacete, Luisa, tá frio pra caralho! Você iria rir e batizar meu café com conhaque, ‘agora tá tudo bem!’ E não é que estava mesmo?

Eu não sei se todo esse tempo longe de você me fez esquecer as partes ruins, mas eu só consigo lembrar do quanto sempre esteve tudo bem enquanto você estava aqui. Você bem sabe que eu nunca soube como ser exatamente feliz, sempre pensei demais, me importei demais, fiz o que eu queria de menos. Desde você, dei boas risadas e aprendi a mandar o mundo me deixar em paz. Não tinha problema que minha carreira estivesse um lixo e eu precisasse mudar com 30 anos na cara ou que minha mãe estivesse cobrando filhos e a gente não conseguisse nem cuidar de uma violeta. ‘Aceita, Arthur, a nossa planta é o cacto mesmo, bem independente dos nossos cuidados horrorosos’. Eu aceitava. Tava tudo perfeitamente bem.

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Aí você foi embora.

E eu fiquei.

Perfeitamente mal.

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Muito tempo.

Tentei mudar o cabelo, adotar um gato, focar na faculdade, aprender foxtrot, pintar quadros, colocar fogo em todas as minhas camisetas que foram seus pijamas. Tentei nunca mais ouvir nossa música, depois ouvi um dia inteiro seguido. Fiz aula de violão. Visitei meus pais. Viajei sozinho. ‘Sozinho’: a sua foto ainda estava na carteira e os seus infinitos copos de café embaixo do banco do meu carro. Pior que isso, você ainda estava dentro de mim, naquele lugar imenso que eu te dediquei. Mas ele já não era mais tão quentinho. Eu não era mais quentinho. Se você soubesse o quanto eu precisei do seu conhaque.

As estações passaram, eu esqueci de você, daí lembrei. De todas as coisas que eu sempre amei, das que eu odiava também, e então me surpreendi: não te amava mais. Não daquele jeito bizarro que a gente achou graça. Você ainda é possivelmente uma das pessoas mais incríveis que eu vou conhecer na vida, mas hoje eu sei que tudo aquilo que você disse sobre a gente não era pra machucar. Fazia sentido mesmo. Fomos felizes pra caralho e isso era motivo para celebrar sim! Eu celebrei ontem, dançando bandas ridículas pelado na sala. Sabe por quê? PORQUE EU TE SUPEREI, LUISA! E gritei isso com todas as minhas forças. Gargalhei e pensei que, porra, a gente devia comemorar isso junto.

EU

             SU  

                                 PE

                                                                REI!

Então, depois de tanto gelo, o meu inverno acabou. E eu tô aqui, com minha melhor roupa, no dia mais frio dessa cidade, indo pro nosso café de dia mais frio da cidade. Esperando te ver e dançar com você, te abraçar e gritar sobre como isso tudo é bom, sobre como a gente foi bom. Beber mais café e deixar a neve cair. Olhar pro seu rosto e não sentir mais todo o rancor que eu senti. Olhar pro seu rosto e sentir todo o carinho que eu sempre senti. Dançar mais um pouco e ir embora, feliz, sem olhar pra trás. Talvez eu goste dos dias frios agora.

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