O mergulho na piscina rasa

Se existe uma coisa difícil de entender ou explicar são relacionamentos. Em todos esses anos escrevendo sobre, observei muitas histórias, todas com suas particularidades, mas, também, com seus pontos em comum. Ultimamente, tenho percebido que em vários casos o ponto comum tem sido um só: o medo de ficar sozinho, também conhecido como carência. E os sintomas são bem fáceis de identificar: eles começam de forma instantânea, com poucos motivos ou sentimentos fortes, se aproveitando principalmente do alvoroço que conhecer alguém que nos acha interessante causa.

Nós todos queremos causar curiosidade, nosso ego infla quando nossas histórias intermináveis parecem engraçadas e nosso cabelo bagunçado parece brilhante, isso é completamente normal e compreensível, o problema está em, com isso, não levar em consideração que é preciso conhecer de verdade o outro antes de se envolver completamente, que esse conhecer leva tempo, que se dividir com alguém não é lá a coisa mais fácil de se fazer. É preciso carinho, cuidado, paciência, disponibilidade, vontade, coisas em comum e, acima de tudo, amor. Não exatamente o dizer ‘eu te amo’, isso eu mesma posso dizer a qualquer pessoa agora. É preciso ter significado. Sem esse significado, o resultado é ridiculamente fácil de adivinhar: um salto, daqueles magestrais que tem origem em um trampolim e acabam em, pasme, uma piscina rasa.

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Ok, namorar é ótimo. Eu mesma, que sempre fui ativista contra, hoje em dia preciso dar a cara para baterem. É ótimo ter alguém que se importa tanto com a gente, ter mensagem de bom dia, ter alguém pra te achar bonita com o pijama doze vezes maior que o corpo e fazer as tardes de domingo menos entediantes. E é nessa vontade de ser amado que as coisas complicam; qualquer sinal de carinho ou interesse, lá vai a pessoa, correndo, vestir a roupa de banho e o protetor de orelha. Conhecer o território para saber se ‘dá pé’ ou, até mesmo, se sabe nadar depois do salto nem passam pela cabeça. Tem alguma coisa depois do salto? Ô, se tem. E é a falta dessa pergunta que faz com que esses relacionamentos tenham mais um ponto em comum: um tempo e um desgaste surreal para fazer as coisas darem certo, os amigos podem ficar para depois, tudo pode ficar para depois. As declarações são gigantescas, quase do tamanho dos problemas e da insegurança que se envolver com alguém traz. Tardes e tardes, noites e noites, tentando entender o outro e segurá-lo em si.

Conhece-se então alguém com problemas, com rinite alérgica, ou simplesmente diferente do que se idealizou. A partir daí, mais duas braçadas, no máximo, e cada um pro seu lado, sem entender porque as coisas nunca dão certo. Os amigos, que até então estavam de lado, jogam a boia, tentando o resgate. Resgate esse que nada vale se não houver aquele tempo de reflexão, no qual se revive os últimos tempos e se tenta entender onde e porque as coisas pararam de funcionar. Uma espécie de retrospectiva de ano novo, um pouco mais dolorosa, ao mesmo tempo que necessária. Só assim é possível que nas próximas vezes as coisas tenham seu ritmo próprio, sem pressa ou atropelamentos, passando então, finalmente, a serem um nado sincronizado.

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