The Hardest Part

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Suas malas estão na porta que, não por acaso, já está aberta. Eu abri a porta! Sim! Eu. Sem nem me importar no quanto a casa vai ficar vazia. Na verdade, me pergunto se algum dia, desde que você apareceu, ela já esteve cheia. Você nunca foi de ocupar espaço, sentava com sua bebida em algum canto enquanto todos dançavam. Nossos amigos nem costumavam notar quando você abandonava tudo e voltava para casa, prometendo me buscar na hora que eu cansasse daquela alegria que você jurava não entender. Não entender alegria. Sem dúvidas o comentário mais estranho que eu já tinha ouvido na vida. E não é que foi justo ele que me fez ficar tão intrigada sobre você? Até seu sorriso – ou com os lábios ou com os olhos, nunca os dois – era um mistério. Ninguém sabia nada sobre você. Nem seu nome, nem como tinha chegado. Uma noite qualquer você só estava ali, com uma garrafa na mão. E ficou. E eu fiquei, mesmo que todos os sinais apontassem pra que eu corresse, desesperadamente, para o lado contrário. Eu já tinha conhecido mil caras como você, depois de me quebrar por cada um deles, também já tinha prometido nunca mais ouvir essa voz ridícula de ‘VAI!’. E então você sorriu, com os olhos, dessa vez, me alcançando mais uma bebida. ‘É estúpido! Levanta da porra dessa cadeira agora e vá com seus amigos, não seja idiota, por favor! Levanta! NÃO OLHA PRO JEITO QUE ELE SORRI. NÃO NOTA QUE É SÓ COM OS OLHOS!!!” Notei. Fodeu.

É, você me fodeu. E não do jeito que eu queria. Não faça essa cara de surpresa. Eu tenho vontade de esbofetear essa sua cara de idiota que não faz ideia das coisas. Como é possível que você não tenha notado a forma com que eu deixava de ser aquela eu tão cheia de neuras e dramas só de te ver chegar? Eu te contei meus maiores segredos, segurei sua mão e passeei pela pior etapa da sua vida, com paradas para acariciar seu cabelo e secar suas lágrimas. Foram tantas madrugadas ouvindo a quantidade de gente idiota que você já tinha convidado pro chá. Eu me sentia em casa vendo que você sabia como era uma merda ter dado tanto e recebido tão pouco. “É realmente uma droga, Marina. Olha pra você. Você devia ter o melhor.” Realmente, eu devia. Por algum tempo, achei que você era o melhor. Você? Bem, você preferiu ter outras pessoas e, semanas depois, reclamar mais uma vez de sempre escolher o pior. Às vezes eu acho que aquela frase clichê do livro que eu te emprestei e você nunca leu realmente faria sentido pra você; era alguma coisa como “nós só aceitamos o amor que achamos que merecemos”.

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Às vezes eu tenho vontade de gritar bem alto ‘QUAL É O SEU FUCKING PROBLEMA?’.  Ao invés disso, e, uma única vez, eu só queria que você soubesse que você realmente quebrou meu coração. Está tudo bem, nós já estamos acostumados, só é estranho pensar em você como o motivo para isso. Na verdade, esqueça, a culpa é minha. É ÓBVIO QUE VOCÊ PODIA TER ME DITO ANTES QUE SUA ESCOLHA NUNCA SERIA EU.  Talvez tudo não estivesse se despedaçando agora e eu conseguisse voltar a pintar, a cantar, e não precisasse correr com raiva pelas praças em que sempre costumei descansar. Talvez eu não estivesse com essa sensação de que tudo que eu sei é errado e que, em todo esse tempo, estive dançando tango sozinha. Talvez você só não saiba dançar.

Eu esperei, esperei, esperei. Fingi não me importar com as mil noites nas quais você não apareceu por simplesmente não querer ir. Tive conversas, tanto com meus amigos quanto comigo, que duraram dias, tentando te desvendar. Desenvolvi dois ouvidos entupidos com água da piscina para todos que disseram que eu deveria parar.  Acreditei que, mesmo tão parecido com tudo que eu já conhecia, dessa vez seria diferente. Justifiquei todas as suas faltas, entendi toda a carga que vinha com esses olhos castanhos tão pesados. Te apresentei meus melhores amigos, filmes,  histórias, escolhi minhas melhores roupas,  meus melhores conselhos, MEU MELHOR EU, só por achar que você merecia. A pior parte? Olhando para a porta aberta, percebo que não existe nenhuma mala porque, na verdade, você nunca esteve aqui.

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