Trinta Dias

Trinta dias. Trinta. 3. 0. Trinta riscos no meu calendário, trinta dias que eu não durmo direito, não trabalho direito, não sou eu direito. Eu me tornei uma pessoa ridícula, Laís, ridícula! Calma, eu não tô te culpando por nada, quase nada, a não ser por você ter me deixado sozinho com essa casa imensa e todos os nossos planos. Você já tem novos planos?

Ok que me sentir ridículo na sua frente não é novidade, você era tão intensa, tinha amigos em todos os lugares enquanto eu contava nas mãos quem tinha por perto. Se a gente fosse comparar, você seria a foto com 500 likes em 5 minutos, eu, a postada há duas semanas, com apenas 3. Você sempre soube o que queria beber, falar, vestir ou sentir. Era invejável! Na verdade ainda é. Eu aprendi a beber cerveja amarga, a ler os clássicos e a quase dançar bolero. Em troca, te ensinei a desenhar e a organizar a agenda (e a vida). Te dei colo, carinho, novos pijamas e mil músicas feitas no meu ukulele quase quebrado. As letras estão aqui, espalhadas na porra dessa sala vazia. Assim como eu.

Você podia pelo menos ligar, né? Será que é tão difícil me dar pelo menos uma dica do que te fez ir? Eu fico vendo nossas fotos, todos os ingressos de cinema, lembrando das nossas noites acampando na sacada e realmente não sei onde desandamos. Essa semana, em mais uma das minhas tentativas de sair de casa, encontrei alguns dos seus amigos e eles nem fingiram surpresa. No fim, eu deveria saber que isso ia acontecer. É engraçado. Porque seria exatamente você quem me diria: ‘é, tava o tempo todo na sua cara’. Abriria uma cerveja e colocaria nossa série preferida nos nossos episódios preferidos. Já tô na quinta temporada. Não dei nenhuma risada.

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Eu tentei escrever várias vezes, mas não sabia o que dizer além de que doía tanto que parecia ser algo físico, mas, caso essa seja a última coisa minha que você leia, eu não queria dizer só isso. Esperei. Tentei sair mais de casa, mas parece que todas as garotas decidiram usar o seu batom escuro e roupas largas demais para seu corpo pequeno. Eu cheguei a jurar que era você umas 200 vezes. Às vezes eu acho que estou ficando louco.

Não é como se fosse a primeira vez que eu ganho um ‘coração partido’, não é que eu esteja fazendo drama e não queira aceitar, eu quero. Tanto… Já até tentei me convencer que, mesmo que esses 3 anos tenham sido os melhores das nossas vidas, agora chegou a hora de te dividir com o mundo. Algum outro cara precisa aprender a beber cerveja. Na verdade, foda-se ele!

E aí eu odeio você. Te culpo por tudo. Depois começo a pensar que preferia que nós fossemos bons amigos e só, eu ainda teria a sorte de te ter por perto em todo churrasco de domingo e, se eu tentasse bastante, talvez poderia ser suficiente. Então, pela trilionésima vez, eu penso em tudo. O quanto nós fomos felizes, o quão melhor eu me tornei depois de te conhecer, o quanto viajamos e o quanto você me ensinou a tirar o pé do chão de vez em quando. Eu faria de novo. Tudo. Mesmo que fosse doer mais do que dói agora. Se você fosse me agarrar para dormir abraçado bem na hora em que eu preciso sair, valeria a pena.

Talvez eu já esteja me repetindo. Desculpa. Talvez seja hora de acabar e te deixar em paz. Volta, por favor. Fique bem. Não esqueça de regar as plantas, não afogue a Tereza III, você sabe como as duas primeiras eram sensíveis. Eu vou seguir aqui, nessa sala, chamando o seu nome em cada telefonema atendido, até você voltar pra nossa casa ou eu deixar de te amar. Eu vou ter que deixar de te amar, né? Caralho, com é difícil admitir. É impossível tentar. Eu não quero tentar. Talvez fosse mais fácil se eu soubesse o motivo pelo qual você deixou de me amar. É ridículo, esquece. Mas Volta. Por favor.

Ridículo, Laís, ridículo. Desculpa.

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